sábado, 24 de abril de 2010

O CORAÇÃO


O que, no coração do homem, é realmente divino não pode ser definido; se há palavras para alguns traços, não as há para exprimir o conjunto, e sobretudo o mistério da verdadeira beleza em todos os gêneros. É difícil dizer o que não é poesia; mas se quisermos compreender o que ela é, precisaremos apelar para as impressões que uma linda região, uma música harmoniosa, a visão de um ser querido incitam, e, acima de tudo, para um sentimento religioso que faz com que sintamos a presença da Divindade dentro de nós mesmos. A poesia é a linguagem natural de todos os cultos. A Bíblia está repleta de poesia; Homero está repleto de religião. Não que haja
ficções na Bíblia, nem dogmas em Homero; mas o entusiasmo junta num mesmo lar sentimentos diversos; o entusiasmo é a homenagem da Terra ao Céu; ele os junta.O dom de revelar pela palavra o que sentimos no fundo do coração é muito raro; apesar disso, há poesia em todos os seres capazes de sensações vivas e profundas; falta expressão àqueles que não estão acostumados a encontrá-la. O que o poeta faz, por assim dizer, é só libertar o sentimento prisioneiro no fundo da alma; o gênio poético é uma disposição interna, da mesma natureza daquela que torna capaz um generoso sacrifício: compor uma bela ode é aspirar ao heroísmo. Se o talento não fosse móvel, inspiraria com muita freqüência as belas ações e as palavras tocantes; pois elas nascem igualmente da consciência do belo, que se faz sentir em nós mesmos...
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